domingo, 29 de maio de 2011

Finalização do fascículo 1 - Turmas B e D realizando atividades




















Conto indiano


Árvore Florida

Recontando um conto indiano
Diz que havia duas irmãs muito pobres, um dia a mais velha teve uma idéia (leu em algum livro de feitiçaria ou algo do gênero). Explicou para a irmã mais nova o passo-a-passo, informou que era necessário tomar muito cuidado e seguir tudo direitinho sem alterar a ordem dos procedimentos; não precisava ter medo. Explicado tudo, foram até o quintal, onde a mais velha jogou um balde de água sobre a mais nova. De repente a pequena se transformou numa bela árvore que aos poucos fazia brotar lindas flores, mais bonitas do que aquelas que só desabrocham na primavera, algo nunca antes visto.
“Tá caindo fulô eô
Tá caindo fulo…
Lá no céu, cá na terra…
Tá caindao fulô”
Com muito cuidado, sem quebrar um ramo sequer, colheu as flores e colocou em um balaio. Acabado todo esse processo, jogou água novamente sobre a mais nova, esta voltou a ser menina.
Seguiram para a rua do Mercado, colocando logo em exposição suas flores. As pessoas que passavam não acreditavam e ficavam abismadas com aquelas flores tão bonitas. E assim, dias após dia, iam guardando o dinheiro…
Um dia, um rapaz encantado com a beleza daquelas flores, resolveu comprar todo o balaio, estava fora de si, o cheiro, as cores das flores o consumiam por dentro… Ao perguntar para as meninas quem era o fornecedor daqueles produtos não obteve resposta, seguiu as vendedoras para descobrir aonde moravam. No dia seguinte pela manhã, ficou na vigília para ver o processo de colhimento. Acabou presenciando a transformação da pequena em árvore. Ficou, então, totalmente apaixonado.
Pela tarde voltou a rua do Mercado e comprou novamente o balaio todo, aquelas flores seriam dele, somente dele. Pediu a mão da mais nova em casamento. Para sua felicidade não houve nenhuma resistência quanto ao seu pedido.
Na noite de núpcias, falou para sua esposa que sabia de toda a magia, não falaria a ninguém, mas que pela última vez e somente para ele, que ela se transformasse. A noiva, assustada, negou o pedido, mas não conseguiu convencê-lo do contrário, acabou sucumbindo ao pedido, no entanto, deixou bem claro quanto todo o processo, todo o cuidado necessário, pois um passo não seguido acarretaria em algum desastre. Ele, afoito, disse que sim com a cabeça. Pegou um balde com água e derramou sobre a noiva.
Alucinado, se jogou sobre a árvore e arrancou cada uma das flores, depois de muito tempo lembrou de que deveria desfazer o feitiço. Assim que a água passou pelas raízes, pulou de susto, não conseguiu conter seu desespero, sua noiva estava sem pés, braços, olhos, ouvidos e boca.
Não sabendo o que fazer, correu para fora da casa, correu, correu, parou ao verificar que estava perdido próximo a uma cachoeira com uma gruta, onde entrou e ficou lá… Anos se passaram, sua barba já se arrastava pelo chão tocando as pedras úmidas da cachoeira, seus cabelos brancos se confundiam com a barba. Refletiu e chegou a conclusão de que estava na hora de retornar, saber o que aconteceu depois desses anos todos, se a magia havia passado…
Ao chegar em sua antiga casa não havia mais nada da suntuosidade de outrora, partiu para casa da irmã de sua noiva, perguntou por ela, estava a mesma, sem os membros, ouvidos e boca. A irmã mais velha o aconselhou a jogar novamente um balde de água por sobre a outra e que dessa vez ele juntasse cada parte da árvore em seu devido lugar, colar todas as partes em seus devidos lugares, amarrar os galhos quebrados, colar as folhas… Foi o que fez.
Quando terminou pode ver o belo trabalho que foi feito, era uma nova árvore. Jogou novamente o balde com água e viu a transformação, lágrimas escorriam pelos seus olhos fatigados, maltratados por tantos anos de reclusão em uma gruta escura. A irmã mais nova retornou da magia mais linda do que antes, de uma beleza inigualável.

http://atorbrincante.wordpress.com/2009/03/30/arvore-florida/

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Revisão de texto

Escrever e reescrever mais de uma vez o mesmo texto é um importante
meio para se aprimorar a habilidade de escrita dos alunos (CECÍLIA LANA)
Todos os profissionais que trabalham com a escrita precisam, em determinado momento, revisar seus textos. Não há jornalista que nunca
tenha tido que alterar uma reportagem depois da revisão do editor. Da mesma maneira, escritores e poetas precisam reelaborar alguns trechos
ou estrofes antes de lançarem seus livros. E até mesmo aqueles que só fazem uso da escrita para fins corriqueiros, como redigir um e-mail ou
um lembrete, muitas vezes, precisam fazer alterações em seus textos depois de uma leitura silenciosa.
Para o professor Sírio Possenti, do Departamento de Linguística da Universidade Estadual de Campinas, se é assim que as coisas acontecem
"na vida real", é assim que deve funcionar em sala de aula: "As práticas escolares devem tentar se aproximar das práticas reais de escrita. Lá
fora, todo mundo revisa. O ideal é que, na escola, a revisão também faça parte do processo de escrita naturalmente", defende.
O professor Antônio Augusto Gomes Batista, da Faculdade de Educação (FaE) da Universidade Federal de Minas Gerais, explica que a revisão
textual é uma parte importante do amplo processo pedagógico de ensinar a produzir textos. Segundo ele, o objetivo do ensino de português
é fazer com que o aluno domine os usos públicos da língua. "É por isso que é importante tentar criar na escola uma situação de uso da língua
parecida com as situações que estão fora da escola", diz.
Dizer mais e dizer melhor
De acordo com a professora da FaE e pesquisadora do Ceale Gladys Rocha, que trabalhou com a questão em sua dissertação de mestrado, o professor pode propor a revisão de diversas maneiras em sala de aula: é possível dividir os alunos em grupos e pedir que eles revisem, juntos, o texto de um colega. 
Pode-se, também, assinalar para o aluno o trecho confuso e solicitar que ele reorganize aquelas ideias. E, ainda, existe a possibilidade de copiar o trecho de uma redação no quadro para que toda a turma sugira, conjuntamente, formas
de reescrevê-lo. Ela ressalta que o mais importante é que a criança aprenda, ao longo do processo, o que significa revisar. Segundo Gladys Rocha, o aluno precisa ser capaz de refletir sobre o próprio texto e delimitar as estratégias para que o leitor compreenda exatamente aquilo que ele, autor, gostaria de dizer. "Esse é o movimento que a gente tem que ensinar ao aluno", afirma.
Esse planejamento do texto em função do público leitor é um dos aspectos mais difíceis – e importantes – no aprendizado de habilidades textuais, segundo Antônio Augusto Gomes Batista. "Ordenar as ideias, decidir o que pode ser deixado implícito e o que precisa ser dito explicitamente, saber o que você precisa contar para o leitor e o que é dispensável, esses são os aspectos que costumam ser mais problemáticos."
Pode ser difícil, mas não é impossível. Gladys Rocha conta que costumava devolver os textos aos alunos sem nenhuma marcação e pedir que eles escrevessem novamente, melhorando tudo o que fosse possível no "jeito de contar", para que o leitor compreendesse melhor a história. "Assim a criança vai, aos poucos, aprendendo que ela pode melhorar. Algumas entendem da primeira vez, outras não", diz. Os resultados da investigação da pesquisadora mostraram que, durante um processo de revisão, a criança, inicialmente, consegue "dizer mais". E, com o tempo, consegue também "dizer melhor".
Gladys Rocha ressalta a importância de os textos serem entregues aos alunos sem marcações. "Se você marca, você condiciona a revisão da criança aos elementos selecionados e não permite que ela atue como leitora do próprio texto. Aí não são criadas, efetivamente, as condições para que ela possa dizer mais e dizer melhor", alerta.
Conhecimento aplicado
O grande problema de se trabalhar a revisão com marcações e códigos é quando esse tipo de abordagem focaliza apenas aspectos estéticos ou ortográficos. "É claro que esses aspectos importam, mas, no meu entendimento, a centralidade da revisão deve ser na construção do texto, na textualidade, na continuidade, na progressão das ideias", defende Gladys Rocha. Para a pesquisadora, o trabalho dos aspectos ortográficos com alunos de 1ª a 4ª série deve ser o último passo do processo de revisão e precisa ocorrer apenas depois que o texto, do ponto de vista discursivo, já estiver bem estruturado.
Quando se trata de alunos um pouco mais velhos, a atividade de revisão de textos pode ajudar o professor a resolver aquele que é um dos maiores problemas do ensino de português: a maneira como se dá a transmissão de determinados conhecimentos linguísticos. Muitas vezes, no dia a dia da sala de aula, o que acontece é que lições de gramática e ortografia acabam sendo ensinadas de modo descontextualizado, desligadas dos usos sociais da língua.
"A revisão textual possibilita que o professor explore certos conhecimentos
linguísticos não por eles mesmos, mas tendo em vista sua aplicação em uma
situação específica", observa Antônio Augusto Gomes Batista. Essa ideia é
defendida também pelo linguista Sírio Possenti, que acredita que "o momento
da revisão é o verdadeiro lugar da aula de gramática".
Jornal Letra A   outubro/novembro de 2010 - Ano 6 - n°24

Do almanaque de farmácia às histórias em quadrinhos

Com uma leitura útil, prazerosa e próxima dos interesses dos alunos, esse
gênero textual pode ser um facilitador da aprendizagem (CECÍLIA LANA)
A palavra almanaque, hoje em dia, é geralmente associada a dois tipos de publicação: as destinadas ao público infantil, que reúnem histórias em quadrinhos, como os almanaques
Disney e Turma da Mônica, e as de caráter enciclopédico, que trazem informações curtas, sobre assuntos variados, como o Almanaque Abril.
Entretanto, os almanaques são publicações antigas que, em sua concepção original, diferem bastante do modo como são conhecidos atualmente. "As publicações que geralmente
encontramos hoje e que levam a palavra almanaque possuem apenas alguns aspectos do gênero típico", diz a pesquisadora Margareth Park, do Centro de Memória da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp). Segundo a professora Vera Casa Nova, da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, o que ficou do velho almanaque foi o
layout, ou seja, o modo como o conteúdo é apresentado, cuja característica principal é a presença massiva de figuras e recortes variados.
Gênero textual de leitura ligeira, os almanaques traziam seções curtas com assuntos diversos, como informações de cunho histórico e geográfico, cartas de leitores, anedotas,
crônicas, receitas culinárias, charadas, dicas de atividades para lazer, horóscopo, calendário e até previsão do tempo. No Brasil, o apogeu de circulação dos almanaques típicos
ocorreu entre as décadas de 1920 e 1970. Os mais populares eram os chamados almanaques de farmácia, distribuídos gratuitamente, sempre no início do ano, por laboratórios
brasileiros que se aproveitavam da publicação para divulgar seus produtos e informar sobre doenças. Ainda circulam no país o Almanaque Renascim Sadol, do Laboratório
Catarinense, e o Almanaque Brasil, publicação mensal da Andreato Comunicação e Cultura.

Almanaque e educação
Os almanaques constituem um importante capítulo da história da leitura
no país e seu uso sempre esteve ligado à educação. Vera Casa Nova explica
que eles funcionavam como um "centro de informações" para as pessoas
que não tinham acesso a outros tipos de texto. "Eram uma mini enciclopédia
das classes populares." As investigações da pesquisadora Margareth Park,
realizadas entre os anos de 1995 e 1998, também apontaram para o uso
de almanaques como material de leitura das classes menos favorecidas
economicamente. "Eu pesquisei em Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa
Catarina e Rio Grande do Sul. Em muitos desses Estados, nas casas das
famílias mais pobres, os únicos materiais escritos encontrados eram bíblias
e almanaques", conta.
Espécie de literatura popular, semelhante à de cordel, os almanaques
possibilitam trabalhos interessantes em sala de aula. "Os mais antigos
costumavam conter poemas, contos e crônicas de escritores renomados.
Olavo Bilac, por exemplo, que era o ‘príncipe dos poetas’, enviava seus poemas
para as gráficas e sempre estava nos almanaques. Também alguns textos de
Machado de Assis eram encontrados com frequência", diz Vera Casa Nova.
O escritor Monteiro Lobato, que planejou, escreveu e ilustrou a primeira
edição do Almanaque Biotônico Fontoura, um dos mais populares almanaques
de farmácia, já sugeria que a publicação fosse distribuída em escolas. Para
ele, as crianças eram o grande público desse gênero textual.

Em sala de aula
O trabalho com almanaques em classe pode proporcionar ganhos
pedagógicos tanto no terreno da linguagem quanto em relação ao ensino
de aspectos históricos e geográficos. O professor pode utilizar as edições
antigas ou as que circulam atualmente. É possível também propor atividades
interessantes com os almanaques infantis de histórias em quadrinhos,
mesmo que eles não correspondam integralmente ao velho gênero
almanaque.
A pesquisadora da Unicamp, Maria das Graças Sândi, que dá aulas na
rede estadual de ensino de São Paulo, dá algumas sugestões: "Pode-se
trabalhar com o Almanaque do Asterix para discutir aspectos do Império
Romano, por exemplo. Também é possível discutir sobre o capitalismo a
partir das histórias do Tio Patinhas, ou sobre as representações do Brasil
nas histórias do Zé Carioca. Outro almanaque que pode dar uma boa aula
sobre questões a respeito da nacionalidade brasileira é o Turma do Pererê,
do Ziraldo". Para a professora, o tipo de texto presente nos almanaques, mais
próximo do interesse do aluno, torna-se um facilitador da aprendizagem.
Outro trabalho interessante foi o proposto pela professora Maria Helena
Senger, da Escola do Sítio, em Barão Geraldo, distrito de Campinas (SP), a
alunos do 2º ano do ensino fundamental. A educadora trabalhou com edições
antigas (desde a década de 1930) dos almanaques Biotônico Fontoura e
Renascim Sadol, estimulando os alunos a estabelecer comparações entre
a vida no passado e a vida atualmente. "Por meio das ilustrações, eles
eram capazes de perceber as transformações na moda, na tecnologia e
na geografia do espaço urbano", observa. Segundo a professora, um dos
maiores ganhos pedagógicos da atividade foi esse estímulo à expansão das
noções de tempo e espaço dos alunos. "O trabalho concretizou melhor para
eles a ideia de que existe um passado muito mais distante que o ‘ontem’."
Numa etapa posterior, os alunos escreveram e ilustraram um almanaque,
o que permitiu um intenso trabalho com aspectos da linguagem.
Jornal Letra A   outubro/novembro de 2010 - Ano 6 - n°24