Conceito de letramento em Brian Street
1984
Em 1984, no livro "Literacy in theory and practice", Street utilizou a expressão "Literacy practices" como um meio de focalizar as práticas sociais e concepções do ler e escrever. (Street, 2003, p.77). Nesta obra o autor define o letramento segundo duas perspectivas: a autônoma e a ideológica. Sugere que o letramento, na concepção autômona, destinado às pessoas pobres, analfabetas, residentes em aldeias, ou jovens urbanos, promoveria desenvolvimento destas habilidades cognitivas e a possibilidade de ascenção econômica, lhes tornando melhores cidadãos, embora as condições sociais e econômicas que produziram sua "ignorância" estejam em primeiro lugar. Segundo o autor este modelo (autônomo) disfarçaria as suposições culturais e ideológicas, fazendo com que o letramento se apresente como algo neutro e universal capaz de promover estes benefícios. O modelo autônomo impõe concepções ocidentais de alfabetização/letramento de uma para outras culturas, ou dentro de um país, ou ainda de uma classe ou
grupo cultural sobre outros. Para se contrapor a esta visão o autor sugere o modelo ideológico que oferece uma visão culturalmente mais sensível das práticas de alfabetização/letramento, contemplando a variação destas de um contexto a outro. Este modelo propõe não apenas a aquisição neutra de habilidades técnicas, mas uma prática social que sempre está implícita nos princípios epistemológicos socialmente construídos. Os modos pelos quais as pessoas destinam a leitura e a escrita são arraigados a concepções de conhecimento, identidade e modos de ser e estar. Estes estão sempre inclusos em práticas sociais, em um mercado de trabalho específico ou em um contexto educacional particular e os efeitos de aprender será dependente destes contextos. Alfabetização/letramento, neste sentido, sempre é competitiva e seus significados e suas práticas, conseqüentemente são versões particulares e, portanto, sempre "ideológicas".
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O conceito de letramento no Brasil
1986
Segundo Kleiman (2005, p. 16) o conceito de letramento foi usado pela primeira vez, no Brasil, por Mary Kato em 1986, numa tentativa de separar os estudos sobre o "impacto social da escrita" dos estudos sobre a alfabetização, cujas conotações escolares destacam as "competências individuais" no uso e na prática da escrita.
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Atualizando os conceitos de letramento
1991 - 1996
O que veio ser nomeado como "New Literacy Studies" ((NLS) Gee, 1991; Street 1996) representa uma nova abordagem considerando a natureza do letramento, não focalizando tanto na aquisição de habilidades (alfabetização), mas predominantemente no pensamento da alfabetização/letramento como uma
prática social (Street, 1985). Isso torna mais difícil a realização de estudos etnográficos, diante da variedade de letramentos nos diversos contextos sociais. Assim Street achou mais útil desenvolver condições alternativas. Nesta época o autor já contempla o reconhecimento de múltiplos letramentos, que variam de acordo com tempo e o espaço, mas também competem em relações de poder. NLS, então, não leva nada para conceder com respeito à alfabetização e às práticas sociais com as quais está associado, problematizando letramento em qualquer hora ou lugar e perguntando "quais letramentos" são dominantes e quais são marginalizados ou resistentes. Esta perspectiva que contempla o contexto social e as relações de poder decorrentes da apropriação ou não das habilidades de leitura e escrita seria a alternativa do autor para lidar com a diversidade de possibilidades na cultura ocidental letrada, onde não mais lidamos com populações onde predominam a oralidade. Como em estudos etnográficos anteriores onde a oralidade e a escrita eram vistas de forma dicotômica. Agora estas práticas coexistem em eventos e práticas, e contribuem para inclusão num determinado momento histórico e num dado contexto social.
prática social (Street, 1985). Isso torna mais difícil a realização de estudos etnográficos, diante da variedade de letramentos nos diversos contextos sociais. Assim Street achou mais útil desenvolver condições alternativas. Nesta época o autor já contempla o reconhecimento de múltiplos letramentos, que variam de acordo com tempo e o espaço, mas também competem em relações de poder. NLS, então, não leva nada para conceder com respeito à alfabetização e às práticas sociais com as quais está associado, problematizando letramento em qualquer hora ou lugar e perguntando "quais letramentos" são dominantes e quais são marginalizados ou resistentes. Esta perspectiva que contempla o contexto social e as relações de poder decorrentes da apropriação ou não das habilidades de leitura e escrita seria a alternativa do autor para lidar com a diversidade de possibilidades na cultura ocidental letrada, onde não mais lidamos com populações onde predominam a oralidade. Como em estudos etnográficos anteriores onde a oralidade e a escrita eram vistas de forma dicotômica. Agora estas práticas coexistem em eventos e práticas, e contribuem para inclusão num determinado momento histórico e num dado contexto social.
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Street revendo seus conceitos
1993
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Street revendo seus conceitos (continuação)
2003
Em outubro de 2003, Brian Street apresenta "Abordagens alternativas ao letramento e desenvolvimento, durante a teleconferência UNESCO Brasil sobre "Letramento e Diversidade". Nesta apresentação defende programas elaborados a partir de pesquisas etnográficas que avaliam as práticas de letramento de uma dada comunidade e buscam não apenas "[...] aumentar o número de alunos aprovados em testes de alfabetização, mas a expandir as práticas comunitárias de letramento". A abordagem proposta por Street valoriza as contribuições de Freire (1972) que já discutiam na década de 70 argumentos defendidos em trabalhos recentes (Barton 1994; Barton, Hamilton e Ivanic, 1999; Heath 1983; Street 1993, 1995) e que definem o letramento como não sendo apenas um conjunto de"[...];habilidades técnicas; uniformes a serem transmitidas àqueles que não as possuem (a exemplo da definição bancária de Freire),mas sim que existem vários tipos de letramento nas comunidades, e que as práticas associadas a esse letramento têm base social".
http://www.xtimeline.com/timeline/Hist
Essa linha do tempo foi criada por mim, como parte da revisão de literatura da minha tese de doutorado intitulada Estudo das trajetórias de Letramento em curso de educação a distância: o texto, o papel e a tela do computador (disponível em: http://hdl.handle.net/10183/17431) e defendida em abril de 2009. A linha do tempo está disponível em http//www.xtimeline.com/timeline/Hist--243-ria-do-letramento-no-Brasil
ResponderExcluirAbraços,
Nádie Christina Machado-Spence